Desde já estão sendo realizadas mobilizações comunitárias (através do Projeto O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço – Tuxaua 2009) objetivando a articulação do Seminário do Saber Popular, que será realizado na Lapinha da Serra / Santana do Riacho – MG. Entre os dias 03 e 09 de Novembro acontecerão as atividades preparatórias, e do dia a 18 a 22 de Novembro (Mês da Consciência Negra) de 2010 acontecerão as atividades do Seminário.
Entre os dias 03 e 09 de Novembro acontecerão as atividades preparatórias do Seminário, podendo envolver diversos Pontos de Cultura: EX: (dia 3/11 Ponto de Cultura Arraial de Boa Morte e Chacrinha dos Pretos / Belo Vale – MG; dia 5/11 Ponto de Cultura Art.22, comunidade Quilombola de Pinhões / Santa Luzia – MG; dia 7/11 Ponto de Cultura Quilombo Mata do Tição / Jaboticatubas – MG; dia 9/11 Ponto de Cultura Tapera Real / Conceição do Mato Dentro – MG). As atividades nos Pontos de Cultura acontecerão conforme demanda do Ponto local.
Entre os dias 18 e 22 de novembro acontecerá o grande encontro do Seminário do Saber Popular, reunindo grupos e gestores dos Pontos de Cultura envolvidos. Contará, ainda, com a presença de Mestres presentes no 1º Seminário e representantes de outros Pontos de Cultura inseridos na região da Cordilheira do Espinhaço.
Objetivos específicos
1. Promover debates sobre a cultura popular, conjuntamente às comunidades tradicionais correlatas, criando elos de saber e intensificando as relações de afeto e as identificações mútuas.
2. Ressaltar o critério de territorialidade, possibilitando a troca de experiências e o sentimento de vizinhança entre os envolvidos;
3. Levantar o repertório das comunidades tradicionais referenciadas pelos Pontos de Cultura, estimulando o registro e a troca de saberes e dons entre parteiras, benzedeiras, barranqueiros, Griôs, ribeirinhos, foliões, caboclos, seresteiros.
4. Valorizar o pensamento destas populações tidas como incultas, quando, na verdade, representam o ápice da capacidade cognitiva e adaptátoria brasileira.
5. Possibilitar a interação entre Mestres de diferentes saberes e regiões, de forma a fortalecer os saberes individuais e as ações coletivas
6. Fortalecer da Rede de Pontos de Cultura da Cordilheira do Espinhaço.
7 Potencializar a articulação de atividades juntos aos pontos de cultura: Ponto Cultural e Ambiental Serra do Cipó (Santana do Riacho / MG); Ponto de Cultura Art22 (Santa Luzia / MG); Ponto de Cultura Espaço Artístico Cultural Cor (Tição) (Belo Horizonte / MG); Ponto de Cultura Quilombo Mato do Tição (Jaboticatubas / MG); Ponto de Cultura Tapera Real (Conceição do Mato Dentro / MG); Ponto de Cultura Tivi No Morro / AFFAS de Sabará, Ponto de Cultura Chacrinhas dos Preto e Boa Morte (APHAA Belo Vale / MG); Associação Sócio Cultural Os Bem-Te-Vis / Ponto de Cultura Arte Para Todos (Ouro Branco/MG); Ponto de Cultura Casa da Juventude, da FUMCULT, (Congonhas/MG) entres outros interessados.
8 Transversalizar com as ações nacionais: Cultura Digital, Ação Griô e Escola Viva, re-singularizando-as em função das diferentes intensidades expressivas das comunidades locais e a partir dos conceitos de patrimônio imaterial e monumentos naturais.
9 Articular junto aos poderes a implantação do Monumento Natural Indígena na Serra do Cipó – Cordilheira do Espinhaço
10 Articular junto aos poderes a Implantação do Centro de Cultura Popular da Lapinha da Serra. (Casa do Boi da Rede, do Batuque da lapinha e dos saberes ancestrais).
11 Dialogar com os poderes públicos e sociedade civil sobre a valorização da tradição oral, corporal, e maneiras de garantir sua preservação;
12 Dialogar com a rede pública de educação, saúde dos municípios sobre a importância do saber popular e valorização dos mestres no plano pedagógico de ensino e na medicina preventiva e alternativa.
13 Discutir sobre a prática de manejo do ambiente nas comunidades tradicionais e sua relação com os elementos naturais, como ciclo lunar, das águas, propriedades terapêuticas da flora, totemismo anímico, etc.;
14 Intensificar as ações em curso (do Ponto de Cultura Art22 e seus parceiros) agregando artistas e atores culturais ainda não efetivamente conectados à REDE do Programa Cultura Viva.
15 Fortalecer a Ação Griô em Santa Luzia e a Ação Griô Serra Cipó, além de outras, e discutir e repassar aos outros envolvidos os conteúdos da Lei Griô Nacional. (CNC)
16 Contribuir para a implantação da Lei 11645/08, que estabelece o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
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A cultura e a sabedoria popular vêm sendo discutidas de forma ampla, principalmente nos meios acadêmicos. Porém acreditamos que esta discussão deve se dar conjuntamente aos detentores dessa cultura e sabedoria popular. Percebemos que o patrimônio imaterial ainda é trabalhado por meio de um discurso altamente teórico, deixando distante, tanto as comunidades detentoras da sabedoria popular quanto à cultura viva e dinâmica em sua essência.
Daí a importância da realização desse Seminário do Saber Popular, que é o encontro dos mestres e aprendizes do saber popular, o encontro de suas vivências, de suas histórias de vida, dos sonhos e demandas políticas para o futuro. Nesse contexto, o conhecimento acadêmico tem a importante função de sistematizar os resultados e propor alternativas para a preservação e valorização da sabedoria popular.
O Seminário pretende religar as diversas manifestações culturais referenciadas na região da Cordilheira do Espinhaço. A escolha dessa região justifica-se, facilmente, por ser a única cordilheira brasileira e por ter sido considerada como reserva da biosfera pela UNESCO. Propomos, então, um formato itinerante para o Seminário, o primeiro foi realizado em Santa Luzia/MG, realizaremos este segundo em Santana do Riacho (no distrito de Lapinha da Serra), com perspectivas de realização dos próximos em outras cidades da Cordilheira, percorrendo suas distintas regiões, atuando como elo de fortalecimento da Rede de Cultura do Espinhaço.
A escolha da Serra do Cipó para sediar a segunda edição do Seminário, justifica-se pelo fato da região passar por um processo de transformação geológica e política causada pela mineração em suas serras e pelo turismo. Informamos que comunidades tradicionais estão ameaçadas pela chegada destes investimentos que transformam toda a cosmologia local e as empurra, por suposta ignorância, aos umbrais do esquecimento (Ver filme: Conceição: Guarde nos Olhos / http://www.youtube.com/watch?v=kLxQjBsvQdo). Nesta região há diversos registros rupestres e íntima sabedoria ancestral no que tange à cultura integral. A região resguarda diversos saberes culturais, Candombes, Candomblés, Umbandas e Daimes, Congadas, Marujadas, Folias, Folguedos de Boi, além de raizeiros, geraizeiros, xamãs, artesões, etc. E a sabedoria deste povo está intrinsecamente relacionada aos elementos naturais do espaço onde vivem. As populações deste território necessitam de ações de salvaguarda dos seus saberes e manifestações.
A comunidade da Lapinha da Serra é riquíssima em sabedoria popular. São diversos saberes que se encontram: benzedeiras, parteiras, batuqueiros, senhores e senhoras que resguardam um conhecimento ímpar, o que faz deste local um amplo caleidoscópio do saber ancestral, sendo a localidade procurada por diversos segmentos do conhecimento para realização de artigos de pesquisa e outros estudos culturais e antropológicos. Talvez a manifestação mais característica do povoado seja o Batuque, um tipo de dança de origem antiga, na qual homens e mulheres dançam girando e trocando os pares. O Batuque possui um amplo repertório musical, versos simples, característicos da literatura oral, mas que trazem, em sua essência, importantes traços da cultura interiorana (o namoro, a natureza, o sentimento de vizinhança...). Outra manifestação é o Festejo do Boi da Rede, que se insere em uma vasta e antiga tradição brasileira, a do chamado Boi Janeiro (que acompanha as festividades ligadas às folias de reis). A Associação Art.22 possui ligação com ambas as manifestações, onde atuamos de diversas formas: - oficina de construção de caixas de folia e figurinos; - fortalecimento comunitário e salvaguarda dos saberes tradicionais; - e, principalmente, como brincantes (no sentido mais sério da palavra), atuamos como músicos, dançantes, atores, batuqueiros, boizeiros dessas manifestações.
A região enfrenta a chegada de um turismo devastador, que consome a cultura local sem realmente compreendê-la. Um tipo de turismo que não respeita esta cultura rica em sabedoria e ancestralidade e traz suas vivências cosmopolitas da cultura de massa, fazendo aflorar concorrências comercias entre a população nativa, com excessos de consumo, drogas e ainda ações de violência e desrespeito ao viver local.
Realizar esse encontro é, portanto, garantir um alinhamento de forças para que a tradição e a contemporaneidade construam diálogos que possibilitem o respeito ao conhecimento tradicional, à diversidade e à pluralidade de manifestações culturais brasileiras. Para tanto, contamos ainda com a valiosa articulação proposta pelo Projeto O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço, premiado pelo Prêmio Tuxaua 2009.
esse Seminário foi realizado em novembro de 2009 na comunidade quilombola de Pinhões (Santa Luzia – MG) e reuniu mestres e aprendizes da Ação Griô Santa Luzia, Ação Griô Serra do Cipó, Projeto Cavuco Belo Horizonte, além de Mestres e Tuxauas de outras localidades mineiras (Vale do Jequitinhonha e Zona da Mata) e a própria comunidade quilombola de Pinhões. Foi realizado com recursos deste mesmo prêmio (veja as imagens em www.seminariodosaberpopular.blogspot.com).
Durante uma semana foram realizadas diversas atividades que possibilitaram a interação entre os envolvidos, a discussão de temas de interesse coletivo e o fortalecimento das ações particulares.
Contamos, para o sucesso do evento, com parceiros importantes, como o Projeto Manuelzão – UFMG (oficina de bordado), Observatório Phoenix (exposição de paisagens celestes e observação dos astros e sua relação com os mitos, com o saber da agricultura) e CEDEFES (palestras). Associação Cultural do Lucas, IBEIDS, Associação Projeto Presente, Rede Catitu Cultural e Prefeitura Municipal de Santa Luzia.
Durante o Seminário os participantes vivenciaram diversas manifestações tradicionais (Batuque, Candombe, Catopê, Missa Conga, Folguedo de Boi, Moçambique), participaram de debates, palestras, oficinas e apresentações artísticas (ver o folder de programação anexo). Encontros valiosos aconteceram, amizades sugiram e novas parcerias foram estabelecidas.
Sem qualquer restrição o evento foi agraciado com diversos depoimentos positivos por parte de seus participantes