segunda-feira, 26 de abril de 2010

Objetivos do Projeto Tuxaua - O Saber na Cordilheira do Espinhaço

1. Realizar o segundo Seminário  do Saber Popular na região do Serra do Cipó – Bacia do Rio Santo Antônio e das Velhas; e em sequencia, iremos realizar o proximo nas nascentes do Jequitinhonha.

2. Articular a primeira “Circunferência Livre de Cultura Integral – Cordilheira do Espinhaço”. Encontro regional de política cultural em interface com as questões ambientais (biopolitica, comunicação orgânica, cultura integral, etc);

3. Fortalecer as ações do Pontão do Espinhaço (não institucionalizado, mas ativo) projeto compartilhado pelas associações e outros pontos de cultura;

4. Articular a criação do Monumento Natural Indigena da Serra do Cipó.
5. Potencilazar a equipe Chacaravana e acionar projetos para a implantação logística do Centro de Cultura Integral Chacaravana.

6. Acompanhar, registrar e articular ações culturais conjuntas entre os Pontos de Cultura Art.22 (Santa Luzia), Ponto Cultural e Ambiental Serra do Cipó (Santana do Riacho), Ponto de Cultura Cor(Tição) (Belo Horizonte), Ponto de Cultura Quilombo Mata do Tição (Jaboticatubas) e Ponto de Cultura Tapera Real (Conceição do Mato Dentro), Ponto de Cultura Boa Morte (Belo Vale), como exemplos.

7. Realizar a primeira etapa de articulação entre Pontos de Cultura inseridos na reserva da biosfera do da Cordilheira do Espinhaço para realizar pequenos seminários sobre o saber popular, fortalecendo a conexão em rede entre esses Pontos e o Pontão Griô Nascentes das Veredas;

8. Articular encontros periódicos entre representantes dos referidos Pontos de Cultura, que deverão culminar na realização de seminários intermunicipais do saber popular, na área de abrangência de cada Ponto.

9. Ressaltar o critério de territorialidade, possibilitando a troca de experiências e o sentimento de identificação entre os envolvidos;

10. Gerar uma releitura positiva das trajetórias de ocupação dos territórios por estas comunidades, a partir de uma adaptação ecológica, onde os comunitários são os próprios protetores da biodiversidade;

11. Valorizar a prática de manejo da terra dessas comunidades tradicionais e sua mitificação dos elementos naturais, como ciclo lunar, das águas, propriedades terapêuticas da flora, totemismos animais, etc.;

12. Levantar o repertório das comunidades tradicionais referenciadas pelos pontos de cultura, estimulando o registro e a troca de saberes e dons entre parteiras, benzedeiras, barranqueiros, Griôs, ribeirinhos, foliões, caboclos, seresteiros, bem como de quaisquer outros devires expressivos da memória popular;

13. Transversalizar com as ações: Cultura Digital, Ação Griô e Escola Viva, re-singularizando-as em função das diferentes intensidades expressivas das comunidades locais;

14. Possibilitar aos pontos de cultura envolvidos a troca e aprimoramento de tecnologias sociais e de dispositivos de gestão cultural sob a perspectiva da economia solidária e da autogestão, garantindo às comunidades referenciadas o envolvimento com os processos de criação e produção, além do acesso a novos conhecimentos e informações que possam reverberar em situações de interferência positiva em suas realidades;

15. Intensificar as ações de proteção e preservação do patrimônio cultural, associado à natureza, desenvolvidas pelos pontos de cultura, consolidando uma TRILHA CULTURAL de atividades que integrem as áreas de proteção ambiental e as comunidades.

16. Potencializar dispositivos de comunicação comunitária já existentes (TVs e rádios comunitárias, fanzines, jornais, peças gráficas e telecentros), valorizando-os como estratégia de disseminação da Rede.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Seminario do Saber Popular

Desde já estão sendo realizadas mobilizações comunitárias (através do Projeto O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço – Tuxaua 2009) objetivando a articulação do Seminário do Saber Popular, que será realizado na Lapinha da Serra / Santana do Riacho – MG. Entre os dias 03 e 09 de Novembro acontecerão as atividades preparatórias, e do dia a 18 a 22 de Novembro (Mês da Consciência Negra) de 2010 acontecerão as atividades do Seminário.

Entre os dias 03 e 09 de Novembro acontecerão as atividades preparatórias do Seminário, podendo envolver diversos Pontos de Cultura: EX: (dia 3/11 Ponto de Cultura Arraial de Boa Morte e Chacrinha dos Pretos / Belo Vale – MG; dia 5/11 Ponto de Cultura Art.22, comunidade Quilombola de Pinhões / Santa Luzia – MG; dia 7/11 Ponto de Cultura Quilombo Mata do Tição / Jaboticatubas – MG; dia 9/11 Ponto de Cultura Tapera Real / Conceição do Mato Dentro – MG). As atividades nos Pontos de Cultura acontecerão conforme demanda do Ponto local.

Entre os dias 18 e 22 de novembro acontecerá o grande encontro do Seminário do Saber Popular, reunindo grupos e gestores dos Pontos de Cultura envolvidos. Contará, ainda, com a presença de Mestres presentes no 1º Seminário e representantes de outros Pontos de Cultura inseridos na região da Cordilheira do Espinhaço.

Objetivos específicos

1. Promover debates sobre a cultura popular, conjuntamente às comunidades tradicionais correlatas, criando elos de saber e intensificando as relações de afeto e as identificações mútuas.

2. Ressaltar o critério de territorialidade, possibilitando a troca de experiências e o sentimento de vizinhança entre os envolvidos;

3. Levantar o repertório das comunidades tradicionais referenciadas pelos Pontos de Cultura, estimulando o registro e a troca de saberes e dons entre parteiras, benzedeiras, barranqueiros, Griôs, ribeirinhos, foliões, caboclos, seresteiros.

4. Valorizar o pensamento destas populações tidas como incultas, quando, na verdade, representam o ápice da capacidade cognitiva e adaptátoria brasileira.

5. Possibilitar a interação entre Mestres de diferentes saberes e regiões, de forma a fortalecer os saberes individuais e as ações coletivas

6. Fortalecer da Rede de Pontos de Cultura da Cordilheira do Espinhaço.

7 Potencializar a articulação de atividades juntos aos pontos de cultura: Ponto Cultural e Ambiental Serra do Cipó (Santana do Riacho / MG); Ponto de Cultura Art22 (Santa Luzia / MG); Ponto de Cultura Espaço Artístico Cultural Cor (Tição) (Belo Horizonte / MG); Ponto de Cultura Quilombo Mato do Tição (Jaboticatubas / MG); Ponto de Cultura Tapera Real (Conceição do Mato Dentro / MG); Ponto de Cultura Tivi No Morro / AFFAS de Sabará, Ponto de Cultura Chacrinhas dos Preto e Boa Morte (APHAA Belo Vale / MG); Associação Sócio Cultural Os Bem-Te-Vis / Ponto de Cultura Arte Para Todos (Ouro Branco/MG); Ponto de Cultura Casa da Juventude, da FUMCULT, (Congonhas/MG) entres outros interessados.

8 Transversalizar com as ações nacionais: Cultura Digital, Ação Griô e Escola Viva, re-singularizando-as em função das diferentes intensidades expressivas das comunidades locais e a partir dos conceitos de patrimônio imaterial e monumentos naturais.

9 Articular junto aos poderes a implantação do Monumento Natural Indígena na Serra do Cipó – Cordilheira do Espinhaço

10 Articular junto aos poderes a Implantação do Centro de Cultura Popular da Lapinha da Serra. (Casa do Boi da Rede, do Batuque da lapinha e dos saberes ancestrais).

11 Dialogar com os poderes públicos e sociedade civil sobre a valorização da tradição oral, corporal, e maneiras de garantir sua preservação;

12 Dialogar com a rede pública de educação, saúde dos municípios sobre a importância do saber popular e valorização dos mestres no plano pedagógico de ensino e na medicina preventiva e alternativa.

13 Discutir sobre a prática de manejo do ambiente nas comunidades tradicionais e sua relação com os elementos naturais, como ciclo lunar, das águas, propriedades terapêuticas da flora, totemismo anímico, etc.;

14 Intensificar as ações em curso (do Ponto de Cultura Art22 e seus parceiros) agregando artistas e atores culturais ainda não efetivamente conectados à REDE do Programa Cultura Viva.

15 Fortalecer a Ação Griô em Santa Luzia e a Ação Griô Serra Cipó, além de outras, e discutir e repassar aos outros envolvidos os conteúdos da Lei Griô Nacional. (CNC)

16 Contribuir para a implantação da Lei 11645/08, que estabelece o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

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A cultura e a sabedoria popular vêm sendo discutidas de forma ampla, principalmente nos meios acadêmicos. Porém acreditamos que esta discussão deve se dar conjuntamente aos detentores dessa cultura e sabedoria popular. Percebemos que o patrimônio imaterial ainda é trabalhado por meio de um discurso altamente teórico, deixando distante, tanto as comunidades detentoras da sabedoria popular quanto à cultura viva e dinâmica em sua essência.

Daí a importância da realização desse Seminário do Saber Popular, que é o encontro dos mestres e aprendizes do saber popular, o encontro de suas vivências, de suas histórias de vida, dos sonhos e demandas políticas para o futuro. Nesse contexto, o conhecimento acadêmico tem a importante função de sistematizar os resultados e propor alternativas para a preservação e valorização da sabedoria popular.

O Seminário pretende religar as diversas manifestações culturais referenciadas na região da Cordilheira do Espinhaço. A escolha dessa região justifica-se, facilmente, por ser a única cordilheira brasileira e por ter sido considerada como reserva da biosfera pela UNESCO. Propomos, então, um formato itinerante para o Seminário, o primeiro foi realizado em Santa Luzia/MG, realizaremos este segundo em Santana do Riacho (no distrito de Lapinha da Serra), com perspectivas de realização dos próximos em outras cidades da Cordilheira, percorrendo suas distintas regiões, atuando como elo de fortalecimento da Rede de Cultura do Espinhaço.

A escolha da Serra do Cipó para sediar a segunda edição do Seminário, justifica-se pelo fato da região passar por um processo de transformação geológica e política causada pela mineração em suas serras e pelo turismo. Informamos que comunidades tradicionais estão ameaçadas pela chegada destes investimentos que transformam toda a cosmologia local e as empurra, por suposta ignorância, aos umbrais do esquecimento (Ver filme: Conceição: Guarde nos Olhos / http://www.youtube.com/watch?v=kLxQjBsvQdo). Nesta região há diversos registros rupestres e íntima sabedoria ancestral no que tange à cultura integral. A região resguarda diversos saberes culturais, Candombes, Candomblés, Umbandas e Daimes, Congadas, Marujadas, Folias, Folguedos de Boi, além de raizeiros, geraizeiros, xamãs, artesões, etc. E a sabedoria deste povo está intrinsecamente relacionada aos elementos naturais do espaço onde vivem. As populações deste território necessitam de ações de salvaguarda dos seus saberes e manifestações.

A comunidade da Lapinha da Serra é riquíssima em sabedoria popular. São diversos saberes que se encontram: benzedeiras, parteiras, batuqueiros, senhores e senhoras que resguardam um conhecimento ímpar, o que faz deste local um amplo caleidoscópio do saber ancestral, sendo a localidade procurada por diversos segmentos do conhecimento para realização de artigos de pesquisa e outros estudos culturais e antropológicos. Talvez a manifestação mais característica do povoado seja o Batuque, um tipo de dança de origem antiga, na qual homens e mulheres dançam girando e trocando os pares. O Batuque possui um amplo repertório musical, versos simples, característicos da literatura oral, mas que trazem, em sua essência, importantes traços da cultura interiorana (o namoro, a natureza, o sentimento de vizinhança...). Outra manifestação é o Festejo do Boi da Rede, que se insere em uma vasta e antiga tradição brasileira, a do chamado Boi Janeiro (que acompanha as festividades ligadas às folias de reis). A Associação Art.22 possui ligação com ambas as manifestações, onde atuamos de diversas formas: - oficina de construção de caixas de folia e figurinos; - fortalecimento comunitário e salvaguarda dos saberes tradicionais; - e, principalmente, como brincantes (no sentido mais sério da palavra), atuamos como músicos, dançantes, atores, batuqueiros, boizeiros dessas manifestações.

A região enfrenta a chegada de um turismo devastador, que consome a cultura local sem realmente compreendê-la. Um tipo de turismo que não respeita esta cultura rica em sabedoria e ancestralidade e traz suas vivências cosmopolitas da cultura de massa, fazendo aflorar concorrências comercias entre a população nativa, com excessos de consumo, drogas e ainda ações de violência e desrespeito ao viver local.

Realizar esse encontro é, portanto, garantir um alinhamento de forças para que a tradição e a contemporaneidade construam diálogos que possibilitem o respeito ao conhecimento tradicional, à diversidade e à pluralidade de manifestações culturais brasileiras. Para tanto, contamos ainda com a valiosa articulação proposta pelo Projeto O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço, premiado pelo Prêmio Tuxaua 2009.

esse Seminário foi realizado em novembro de 2009 na comunidade quilombola de Pinhões (Santa Luzia – MG) e reuniu mestres e aprendizes da Ação Griô Santa Luzia, Ação Griô Serra do Cipó, Projeto Cavuco Belo Horizonte, além de Mestres e Tuxauas de outras localidades mineiras (Vale do Jequitinhonha e Zona da Mata) e a própria comunidade quilombola de Pinhões. Foi realizado com recursos deste mesmo prêmio (veja as imagens em www.seminariodosaberpopular.blogspot.com).

Durante uma semana foram realizadas diversas atividades que possibilitaram a interação entre os envolvidos, a discussão de temas de interesse coletivo e o fortalecimento das ações particulares.

Contamos, para o sucesso do evento, com parceiros importantes, como o Projeto Manuelzão – UFMG (oficina de bordado), Observatório Phoenix (exposição de paisagens celestes e observação dos astros e sua relação com os mitos, com o saber da agricultura) e CEDEFES (palestras). Associação Cultural do Lucas, IBEIDS, Associação Projeto Presente, Rede Catitu Cultural e Prefeitura Municipal de Santa Luzia.

Durante o Seminário os participantes vivenciaram diversas manifestações tradicionais (Batuque, Candombe, Catopê, Missa Conga, Folguedo de Boi, Moçambique), participaram de debates, palestras, oficinas e apresentações artísticas (ver o folder de programação anexo). Encontros valiosos aconteceram, amizades sugiram e novas parcerias foram estabelecidas.

Sem qualquer restrição o evento foi agraciado com diversos depoimentos positivos por parte de seus participantes

quinta-feira, 22 de abril de 2010

mapas da cordilheira


REDE DORMIR - POEMA

I

Mantemos uma rede

Uma de dormir.

Isso tudo para cá-pita


A rede se dá pelo ouvido a boca.

Rede o Boca a Boca.

A vivência ao ouvido olhar.

Dormimos nesta rede.


Sotaques e realidades

Paróquias, igrejas templos.

Linhas de pensamento em rede

Devem ainda se alinhar

Rede.


Contém o seu circulo

Oralidades que circulam

Saberes do amplo

A costura dos astros no-céu

Canoas riem descendo o rio

Sonhamos em rede

De dormir


Coracy Q”arca
Trilhas da Cultura Integral

Entendemos que a cultura de uma comunidade está intimamente ligada ao meio natural onde ela vive. Dessa forma a discussão sobre a preservação da biodiversidade deve estar sempre presente quando se fala de cultura de comunidades tradicionais. Serão propostas atividades de consolidação de tecnologias comunitárias de manejo ecológico, pautadas na noção de economia solidária, agricultura familiar, turismo solidário e sustentável. Importante, também, operar com as noções de corredores ecológicos e mosaicos de conservação, dois aspectos essenciais na discussão sobre ocupação humana em áreas de preservação ambiental. Além disso, serão propostas oficinas e outras dinâmicas que privilegiem as relações da cultura com os climas e estações do ano, com os astros e sua influência na vida cotidiana, com os cursos de água e hidrovias, etc. enfim, atividades que evidenciem a influência que meio natural exerce na cultura da população daquele lugar.
Rede de Cultura Popular

A potencialidade da CULTURA POPULAR no trajeto que articula os pontos pode ser apontada na multiplicidade de grupos culturais que atuam no circuito, muitos dos quais ainda não foram efetivamente conectados pelo Programa Cultura Viva. São pequenos grupos que têm atuação local e que deverão ser identificados e contatados pelo Ponto de Cultura de referência local. A idéia é estreitar o contato entre as diversas manifestações da cultura popular, possibilitando trocas ricas e intercâmbio entre seus agentes.

A cavucultura é uma metodologia popular de cultura. Trabalha ritualmente pelo saberes populares e revigora a tradição em diversas formas de expressão. Ao tratar-se do saberes dos mestres, griôs, zeladores e suas oralidades, a metodologia cavuca propõe a transformação da oralidade na materialização do bem estar social da comunidade. Feitura de ofícios, mutirões, trabalhos coletivos, tudo em benefício d’um acervo sócio cultural local. Transformação, ou cavucar na realidade os nossos verbos. Nesta etapa acontecerão atividades, encontros, micro arenas políticas em que a oralidade transforma-se em oficio de construção cultural e da sustentabilidade dos conhecimentos integrais.

Cavulcultura

O projeto propõe um conceito pedagógico próprio para integrar-se ao Programa Cultura Viva, chamado CAVUCULTURA (cultura integral). Tal pedagogia provém da experiência e dos ofícios, oralidades, artes e ambiências vividas durante dois anos no Centro de Cultura Integral Chácara da Arte. Simultaneamente a essa experiência na “Chácara” o conceito era também desenvolvido nos trabalhos da Associação Projeto Presente (Serra do Cipó). Pela Rede Catitu Cultural que, atualmente, executa um projeto relacionado à pedagogia cavuca através do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte e é executada nos centros culturais da zona norte da cidade. Esta nominação (cavucultura ou cavuco) é ainda usada por agentes do NESTH(UFMG) e pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Educação Social (IBDES) e desde sempre é uma palavra que ressoa nas grotas do Espinhaço.

O termo CAVUCO remete a ‘cavoucar’, indicando a gênese dos fluxos nômades dos povos e dos territórios em movimento, que fixaram registros na Cordilheira do Espinhaço. Por toda a área da cordilheira o termo é usado para indicar várias ações. Aproximação etimológica nos indica a proximidade com caverna, gruta e seus habitantes intraterrenos, paleolíticos ou ainda com a atividade da mineraria, fortíssima nesta área: cavoucar, fazer buraco, mina ou abrir cova para onde escorre a água e ainda a palavra reconta a uma primitiva ressonância fonética indígena: cawuca. Daí surge o ser Cavuco, pluriétnico e semovente, transitando por essa região desde tempos históricos.

Nossa proposta metodológica consiste, então, na construção coletiva dos processos culturais e passa tanto pela arte quanto pela ação cultural, estética, educacional e política. Tem caráter multiplicitário e reconhece a inestimável pluralidade embutida no homem contemporâneo e não se restringe a uma única matriz étnica ou cultural. Ao contrário reconhece a diversidade cultural e a relaciona com a diversidade dos espaços (territórios) de ocupação humana. Assim como a cultura de um povo está intimamente ligada ao lugar onde ele habita, suas manifestações de cultura e arte estão intimamente ligadas às atividades laborais que o povo exerce nessa região.

O que quer dizer que, ao mesmo tempo em que o avô ensina ao neto a lida com a enxada na roça, ensina sobre os astros e os períodos da colheita, sobre os costumes dos antepassados, ensina os cantos e os ritos de capina. Na pedagogia cavuca não há diferença entre construir um jardim e pintar um quadro ou esculpir uma forma. O rastelo que varre as folhas são as pinceladas do (pincel) do pintor. O arado que cria vincos na terra é como a ferramenta do escultor.

Nesta metodologia há um grande afeto com o itinerante, o ser movente, o andante, de forma que prevê o suporte de um dispositivo móvel, equipe de técnicos (tuxáuas cavucos), que transitará por todos os pontos conectados, constituindo-se em um instrumento efetivo de intercâmbio e trocas de experiências. O homem, desde tempos imemoriais é guiado por ciclos (ciclo da lua, das estações, da migração dos animais) e esteve, em suas andanças pelo território, guiado por elementos naturais (os astros, as formações rochosas, o curso dos rios). É nosso objetivo metodológico resgatar e valorizar essa íntima relação do homem com o ambiente em que ele vive, com essa cultura ancestral de relação com a terra.

O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço

Projeto premiado pelo Prêmio Tuxaua 2009 do Ministério da Cultura, que pretende potencializar a rede de cultura da Cordilheira do Espinhaço, através de 04 eixos: cultura popular e sabedoria; trilhas da cultura integral; artenativas; redes digitais.