Relatórios

Relatório Tuxaua

O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço

http://cordilheiratuxaua.blogspot.com/

Fevereiro / 2010

Conforme cronograma foram feitas as capacitações da equipe Tuxaua.

Foram visitadas as comunidades de Chacrinha dos Pretos, e Arraial de Boa Morte (Belo Vale / MG). Reconhecemos os espaços que abrigam o Ponto de Cultura, alguns griôs, moradores e lideranças e as resistências diante da mineração.

Estivemos a frente de atividades no distrito de Lobo Leite (Congonhas / MG) com oficinas e apresentação cênica. Articulamos diversas ações, como, por exemplo: - realização da expedição Paraopebas, http://www.aguasdoparaopeba.org.br; - criação de uma equipe de mobilização sócio-cultural – tuxaua. O Trabalho está sendo articulado pelo antropólogo Thiago Araujo... Tuxaua da Rede de Cultura do Espinhaço.

Estivemos com uma equipe, também, no distrito de Itatiaia em Ouro Branco / MG, em encontro com o Mestre Sabino... Guia de tropa. Posta a cachoeira que mero esmere o tempo. Disse-nos sobre feitiço de cobra e nos ensinou sobre tropeirismo. Como caminhar dias sob a mestria de um burro. Reconhecendo a comunidade.

Estivemos com, nossa equipe, no encontro do Boi da Manta em Lagoa Santa... Onde a equipe tuxaua, em sua mambembe pajelança, pôde brincar de boi sob a regência da liderança cultural do Gercino, mestre de boi, como nos conta o poeta e tuxaua de nossa equipe, Marco Lobo:

“Relatório 01, Marco Llobus - http://marcollobus.blogspot.com/ - Eu sou coordenador da Rede Catitu Cultural - Tapuia Tuxaua, Relatório 01, Marco Llobus... origem Planaltina.

Boi da Manta de Lagoa Santa – caminho da Serra do Cipó

Não se tem como começar este relatório sem esmiuçar na memória fatos e histórias que culminaram na realização desta ação. Devo salientar que os vínculos afetivos, entre o grupo que compõe essa ação, completam, em alguns casos, mais de duas décadas. Caminhadas conjuntas nesta construção do que somos, e do que fez ser o que somos. Já há tempos, dialogamos uma busca pela nossa originalidade, existente em nossas origens mistas, míticas, entre enxadas, melaninas de todas as raças. Caboclos e mamelucos no pindorama senda - chamado Brasil. Minas por excelência, quase arfante de “tão bão”, que somente uma dose da mais purinha, ao pé da alegria, nos fez cantar – Darci: Zé Ninguém achou Alguém. Oxalá, Oxalá... i eu ouvi cantar. - Macunaíma índio-preto vira branco pra zoar - É mentira, é mentira, Zé ninguém vai te contá – Nesta terra de excelência, toda arte é a nossa gente. – A verdade, a verdade é que viemos aqui pra te encontrá - Zé ninguém achou alguém, pôs cambota pra dançar. - Alegria, alegria, tamo aqui pra visitar – Zé ninguém a porta bate, um espelho vai mostrar – Sorrisos e alegria, nós vamos festejar. – Zé ninguém achou Alguém, no espêio do amor. – Mais alegria, alegria, Alguém quase chorou – Zé Ninguém virou Alguém, de quem pode se orgulhá. - É verdade, é verdade, Zé ninguém pode te contá... Assim, neste estado natural do terceiro mundo - onde a alegria vive - fazer junto, de ir junto, com tudo e com todos que sabem, que nos conhecem, pois vivenciamos juntos as nossas histórias, e estas, que se confundem por ordem do destino ou da consonância das vontades primas, do querer o mesmo, ou simplesmente complementares pelos nossos discursos e sonhos e, talvez por esquinas tão próximas. Que por vezes foi achado como perdido, uma tribo de sonhadores; artistas sem liberdade, pois para nos já não havia mais escolha não. Somos cabocô, cavuco, gente da gente, e é isso que vamos ser. Ademais é pensamento ou procissão. Por isso comungamos entre asfalto e a estrada de chão, querendo ser nosso amado passado, nosso povo afastado, mistura de tudo nas minas de aço, contundido pela história ou pelo mato, cor ti-ção de mundo, vermelho de paixão, branco de ilusão. Mãe preta daime orientação. Pois mundo tenta, pois é tentação. - Sabor de doce que cansa, difere do segredo, que quase nos causa uma pasteurização. - Mas mãe índia daime na boca, alimento e postura que não há na escola não. Assim vai... esse trem que é nós. Mãe branca, reza o seu santo nome, maria do doce de leite. Vem adoçar meu coração.

Mãe terra é por onde começa - antes foram palavras num tabuleiro de desacertos, contas inventadas e sorrisos mateiros – também pensamos bobiza – essa terra é de peleja, se não, não tem alegria não. Armados agora de compaixão, canga lotada que nem lotação, dois carros de muitos cavalos - aí vamos tantos, quase nenhum santo, pois é sábado de carnaval.

Não mais do que três légua seguimos - período complicado para uma peregrinação. - Mas o justo é quem nos guia, apesar de algumas latinhas, chegamos de remanso na casa que parecia estar em oração. E de lá, da Santa que Luzia, Lagoa Santa a sua porta nos benzia. Boi hoje sai, teremos cortejo sem preguiça, quase não acreditei não. Estica couro, come uma galinha. Canchibrinha aparece como desaparece, não sei não. A casa vazia e, tiquim em tiquim ia virando um quinhão, tambor no fundo batia, que parecia pedir ao sol um tempo de sombra, ou poente mais cedo, tá muito quente, não é hora não. Da cozinha para sala, o mundo mudando de roupa, uma vestimenta mais fresca, aí começa transformação, tudo até nós de roupa diferente, vamos preparar pra dar corda ao boi. Vai e volta, nêga maluca de braço solto se incorpora por baixo - Tem cavalo! Os tambores agora esticados, as vozes treinadas. O apito soa e pela a rua afora eu não vou bem sozinho. - Vou é de mutirão! Havia flash pra tudo quanto é lado, avenida fechada pelo corrimão festeiro, criança correndo, boi pegando, gente segurando trânsito e a pinga desaparecida. - O que há nos “ói” dos outros quando o cortejo passa? Um brio solta! Isso todo mundo vê. As janelas enamoradas, brincando e sorrindo, quase se escondendo de tanta alegre-timidez quando palhaço chama... E no meio do caminho, havia um pé de acerola, no meio do caminho, descabelado de tanta mão boba, que passou do muro, num roubo de criança. Mas tinha muito adulto junto. O dono feliz troça fez, é pra comê mesmo. Êh trem bom... Voltando. Saímos da rua asfaltada e a entramos num conjuntinho cinza. (tâmo da perifa, êta identificação) – Vamos dar de beber ao boi – disseram: Lá onde as Marias que perderam o rio tão lavando roupa. Dá-lhe tanque encharcado de bocas sedentas e água farta jorrando na goela desses santos. É, ...sábado de carnaval. O boi vai para central, entra num bar e convoca a paz universal numa cantoria de todos os lados, ganhando cerveja e abraço, que deu para todos os foliões e seus vassalos.

A noite agora já gritava: - nêgo. O boi sai da pausa e se põem em procissão. – Vamos pra casa, o boi tem que dormir e lá chegamos. A casa cheia, gente tudo conversando. Crianças pulando, os adultos também, o boi para, deita e dorme. Os foliões não. Daquele mundaréu de gente, saiu um tambor de crioula – maranhense – e nas minas gerais. Não tem mais alegria que isso não, moço. Quando pensa que vai acabar, só ta começando, e lá fomos nós, bota a fogueira para queimar, pois roncador vai cantar. Viva Mestre Paulo. Êta farrão bão. Esse tal de tuxaua é bom memo. Lá vamos nós, esquenta couro, faz rima, o calor tá matando, tem um chuveiro ali, canta povo, aparece a desaparecida, a festança não termina, amanhã tem mais peregrinação, serra para subir de montão, e tamo com fome, vamos lá então. Dois hambúrgueres com bacon e coca light. É... a gente é moderno. Pança cheia, vamos então dormir, amanhã tem estrada, mais de 30 légua, isso de carro, depois mais duas de a pé. Muita gente numa sala só, contei 30, tinha peidorreiro e ronqueiro profissional. Estávamos nós, na primeira articulação Tuxaua. Esse trem tem até eco, e só por um fremido... T U X A U A.

Continua...

Estivemos em uma caravana de capacitação tuxaua na cidade com Conceição do Mato Dentro. Estivemos com o representante das comunidades indígenas de Minas Gerais, Aílton Krenak, payé, padrinho de nossa aldeia. Chacaravana. Tuxaua. Cavuca.



A companhia da mula Lili – Três Barras / Tabuleiro / Salto



Percorremos as comunidades de Três Barras com o presidente da associação local, fomos à comunidade do Salto aonde plantamos arroz, realizamos mutirões permaculturais e encontros com mestres. Fomos à comunidade do Parque do Tabuleiro, encontramos com guias do Parque da Serra do Intendente, além de lideranças locais. Comunidade de Itacolomi, comunidade de Candeias, encontrar a mestria de Lobatú, Zé Mané, as criança, as Candeias. Mais uma Vila do Saber nas grotas destas grutas de águas verídicas. Depois fomos guiados a encontrar o Tuxaua Ailton krenak, desarme de atenção, forças do intento, iauaretê, vira onça.

Março / 2010

1. Encontro Teia Minas – encontramos diversos pontos de cultura registrados no território da reserva da biosfera do Espinhaço, onde pudemos articular as ações futuras.

2. Encontros da equipe tuxaua para planejamento das ações.

3. Encontro de premiados tuxauas: Guará Digital (Guarapari / ES) e o Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço (MG) – através das interações estéticas articuladas por Vinicius de Moreira – Tuxaua Conec-cactos do Espinhaço, caravana digital. Confira: http://projetopresente.zip.net/.

4. Conferência Nacional de Cultura, onde Gibran Muller - Tuxaua Cavuco da Associação Art22 – desenvolveu, além dos aspectos da conferência, diversas conexões no que tange aos objetivos de nossa Rede e do Ponto de Cultura Art22. Confira: http://aiaasca.blogspot.com/.

5. Teia Nacional (Fortaleza / CE) - Apresentação da equipe

Thiago Araujo - palhaço pindaíba – tuxaua da Rede de Cultura do Espinhaço

Priscila e Gibran (Ponto de Cultura Art.22), Vinicius de Carvalho (Tuxaua premiado), Vinicius Moreira (Ponto de Cultura da Serra do Cipó) – todos, imbuídores da embaúba cavuca. Equipe tuxaua.

Abril / 2010

Articulação da rede do Patrimônio Imaterial para realização do Seminário do Patrimônio Imaterial no mês de setembro, O seminário do patrimônio imaterial é uma idealização da Rede Catitu Cultural, com a qual trabalhamos colaborativamente. http://redecatitucultural.blogspot.com/. Tem o poeta tuxaua, risco de fotografia - cefalópode serrano, Marco Lobo – tuxaua Borun Mojepotara.

Todos estes projetos foram formulados pela rede de cultura do espinhaço na tentativa de constituir as diretrizes do Pontão do Espinhaço (Rede de Cultura da Cordilheira do Espinhaço):

Produção dos projetos; Conec-cactos do Espinhaço. Caravana Digital do Espinhaço. Seminário do Saber Popular, Projetos Tuxauas, projetos dos Pontos de Cultura e de outros grupos. Desdobro... dobro.

O Seminário do Saber Popular foi enviado ao prêmio Areté e se constituirá, por seu formato itinerante, no principal instrumento de articulação da Rede de Cultura do Espinhaço. Será o encontro e troca de redes em redes de dormir... redes do Sonhar. Esperamos pela significação do projeto, pela articulação preparatória e por uma programação que contempla atividades a partir da conceituação tuxaua, assim como griô e cavuca. Metodologias estas, que experienciamos neste tropeirar de sementes.

Maio / 2010

Estivemos envolvidos na realização da 5ª Semana Interplanetária de Palhaços, onde articulamos a frente de palhaços do Movimento Circo Sem Lona com o movimento dos sem Satélite. “Pirulito: uma bola em cima do palito”. Nossa equipe atua em uma mambembe pajelança, a saga nômade do sagrado. Neste sentido acreditamos que o palhaço é o mediador de conflitos e articulador de fenômenos. Abre-se a tenda, a oca circular andante de tribos sazonais no antigo espinhaço, sob a lona, o picadeiro circular de nossas danças... Evoé Bacuraus. Saudamos um Vinho das Almas.. A chegança dionisíaca em cada vila do saber - faz o tempo decorrer imemorial.

Estivemos enveredados na atividade com as frentes e sistematizações de grupos, para seu fortalecimento, como é o caso da Associação de Música e Cultura Alvorada Pé Vermei, Organização Cênica de Amadores - OCA, Instituto Luzia de Memórias Mídias e Artes do Rio- ILUMMIAR, Além da Rede Cipó: http://www.redecipo.com.br/, onde demos consultoria e legitimamos a sua construção. Envio de projetos aos editais da Funarte: A Lona se Faz – a construção Simbólica do Circo; Kaburé Brasil; Boi da Rede – a tradição reinventada.

Estivemos em diversas comunidades e matrizes religiosas, como umbandas, candomblés, doutrina do santo daime, encontros de mestres e griôs, encontros de articulação da rede estadual de pontos de cultura em PROL DO CONVENIAMENTO URGENTE DOS PONTOS DE CULTURA MG.

Articulamos e acompanhamos o encontro dos mestres na Lapinha da Serra – Ação Griô Santa Luzia e Ação Griô Serra do Cipó - este encontro faz parte da Rede do Saber Popular da Cordilheira do Espinhaço e prepara a intenção da rede em realizar o Seminário do Saber Popular.

Lapinha da Serra - Santana do Riacho - Maio de 2010 Da esquerda pra direita - mestres e griôs - Luiz, Helena, Olga João Eva Antonio e Marilene





Leilão popular para a reforma da capela, griôs e mestres de Santa Luzia - MG, trocam saberes na comunidade do Mestre Juquinha do batuque da Lapinha - Santana do Riacho - MG.





Visita dos mestres ao Instituto Ecovida São Miguel – Lapinha. Fortalecendo a rede da Sabedoria Popular na Bacia do Rio das Velhas, na Cordilheira do Espinhaço.

Obs: O distrito da Lapinha da Serra foi escolhido para a realização do Seminário Intermunicipal do Saber Popular (2010), que em 2009 aconteceu na comunidade Quilombola de Pinhões - Santa Luzia – MG.



Junho / 2010 – Ações previstas

Primeiro Encontro da Rede de Cultura do Espinhaço. Neste encontro pretendemos reunir mestres do saber, gestores de pontos e outros núcleos culturais, para difundir a iniciativa, os trabalhos da rede Pontão do Espinhaço (seminário do patrimônio imaterial, atividades formativas, discutir as dificuldades comuns, promover apresentações artísticas, etc.). A programação estará no nosso blog - http://cordilheiratuxaua.blogspot.com/.





Resumo de ações...

• Mobilizações culturais no distrito de Lobo Leite (Congonhas / MG).

• Visita ao Ponto de Cultura Chacrinha dos Pretos (Arraial de Boa Morte – Belo Vale / MG) e articulação de ações de fortalecimento da Rede de Cultura do Espinhaço.

• Acompanhamento e registro do Boi da Manta de Lagoa Santa / MG, sob a mestria do mestre de boi Gersino.

• Visita à comunidade de Três Barras (Conceição do Mato Dentro / MG) e caminhada com liderança local ao Parque do Tabuleiro.

• Mutirões de permacultura na comunidade do Salto (Conceição do Mato Dentro / MG).

• Teia Regional – encontro com Pontos de Cultura inseridos na Cordilheira do Espinhaço e articulação de ações de fortalecimento da Rede de Cultura do Espinhaço.

• Teia Nacional – articulação de ações com outros Tuxauas e acompanhamento das ações do Ponto de Cultura Art.22 e Ponto Cultural e Ambiental da Serra do Cipó.

• Acompanhamento e acessória aos parceiros (Ponto de Cultura Art.22, Ponto Cultural da Serra do Cipó, Rede Catitu Cultural) na produção de projetos enviados aos editais 2010 do MinC.

• Acessoria ao projeto Seminário do Saber Popular, enviado ao Areté 2010, que se configura como principal instrumento de articulação da Rede de Cultura do Espinhaço.

• Articulação e acompanhamento do encontro de Mestres na Lapinha da Serra (Santana do Riacho / MG), Ação Griô Santa Luzia e Ação Griô Serra do Cipó.

• Acessoria aos grupos estéticos, ligados aos Pontos de Cultura parceiros, na produção de projetos enviados aos editais 2010 da Funarte.



Demonstrativo da aplicação financeira Prêmio Tuxaua 2009.

Descrição Quantidade Unidade Unitário Total

02 coordenadores do projeto. 05 mês R$1.000,00 R$5.000,00

Equipe chacaravana. (04 tuxauas atuantes – cavucultores) – auxilio. 03 mês R$2.000,00 R$6.000,00

Transporte – gasolina, manutenção de veículos, limpeza, óleo. 05 mês R$600,00 R$3.000,00

Diárias alimentação e hospedagem 40 unidade 75,00 R$3.000,00

Material de consumo: fitas de mini DV, pilhas, papelaria.

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1.500,00

Encontro da Rede de Cultura do Espinhaço

(recurso destinado a transportes do encontro no mês de junho).

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- 500,00

TOTAL 19.000,00



APENDICE...

Por...



Thiago Araujo - Tuxaua - O Saber Popular na Cordilheira do Espinhaço.

Tuxaua do Espinhaço



De Cavuco a Tuxaua – conceitualização das ações rede cavouco a partir da refêrencia do termo Tuxaua, apropriado pelo programa cultura viva.

Descrição : Este artigo pretende corroborar a pertinência do prêmio Tuxaua 2009 recebido pelo titular Vinicius Carvalho Lage como membro da Associação Art 22, articulador da rede Cavouca, do Movimento circo sem Lona e da Rede de cultura popular da cordilheira do espinhaço.



Breve histórico de articulação

Desde as primeiras atividades realizadas pelo movimento cultural de São Benedito/Santa Luzia/MG que deu origem a Art 22, ao movimento circo sem lona, ao bloco Alvorada pe vermei, a chacara da arte, ao boletim poético cabeça de papel e outros projetos( projeto raízes- NESTH/UFMG e SEDESE-MG). Trazemos como principio elementar uma afinidade muito especial que define as ações em rede , tanto entre os artistas e técnicos que acreditam e acreditaram desde o inicio das ações, como com o público envolvido, mais numa perspectiva de protagonização e estímulo que propriamente de espetacularização.

Essa condição de reciprocidade permitiu a formação e o acesso a experiência estética e comunicativa bem como a permanência dos participantes, pelo fato de não haver inicialmente uma perspectiva e profissionalização e ou suporte material oferecido. Dessa forma as iniciativas se consolidaram inicialmente a duras penas, mas como uma certeza de troca e presença raras.

Intuitiva e naturalmente vimos colegas absorvendo nossas experiências de mobilização socio cultural, de educação cidadã , de elaboração de projetos e de criação e expressão artistica assim como vimos também os potenciais de cada um sendo colhidos ali mesmo, diante dos olhares e da cumplicidade forjada na libertação pela arte. Em dez anos assumimos enquanto articuladores um tipo de liderança muito especial, a partir de uma autoridade reconhecida na cumplicidade e no estímulo. Mais do que isso construimos este encontro atráves de sugestões e condução de experiências coletivas que se não ofereceram primeiramente técnicas prontas sempre primaram por reverenciar o olhar de cada um , agrupando modos distintos de aprendizado, de acordo com a trajetoria de cada um, mestres, artistas, aprendizes, egressos do sistema penitenciario, professores, voluntários, enfim.

A Art22 incentivou e acompanhou neste perspectiva colaborativa os espaços culturais; Casa da Banca, Quintal do Bananal e o Centro Cultural Chácara da Arte. Nos tornamos parceiros de outras instituições e de projetos como Vozes de Mestre (jardinsproduções), FestVelhas (Manuelzão-ufmg), Seminário do Patrimônio Imaterial (redecatitu) e atuante na Rede de Cultura da Cordilheira do Espinhaço, através do premio de articulação Tuxaua (minc2009). No ano de 2008 fomos aprovados no edital Ação Grio, no edital de Pontos de Cultura: Ponto de Cultura Art22. Fomos contemplados com o prêmio Areté de pequenos eventos com o Seminário do Saber Popular. Fomos aprovados no edital, Agente Escola Viva e Agente Cultura Viva.

Nestes últimos anos viemos assitindo a consolidação do que temos chamado de rede cavouca, o enredamento de iniciativas que a dez anos vem se fortalecendo atraves desta perspectiva horizontal e compartilhada no que concerne a ações de educação pela arte, de fusão de linguagens, de valorização de saberes populares na pessoa de mestres e artistas.

O reconhecimento destas atividades atráves da premiação e do acesso a recursos são portanto consequencia de um acumulo que tem-se forjado a anos e que agora corroboram ações de longo alcance como esta propiciada pelo premio tuxaua 2009.

Educação pela arte e nomadismo

Algumas referências tem sido bastante visitadas nestes últimos anos e são a propria justificativa do premio, nesse sentido seria impossivel relatar as últimas ações realizadas atraves do premio tuxaua 2009 sem fazer alusão as tais , quais sejam , nomadismo e educação pela arte .

Educação pela arte , pois este foi o modo pelo qual construimos nosso olhar sobre a relação humana nos grupos comunitários e nos bairros em calamidade. Ao mesmo tempo que desenvolvemos nossa formação , mantivemos por perto e sempre de forma estimuladora mestres e artistas que até então não enxergavam suas experiências e iniciativas como um valor intrinseco a educação cidadão, ao bom senso e ao juizo critico.

Dessa forma o processo de valorização de mestres e dos artistas populares nas visitas as comunidade e na caminhada por trilhas históricas são a propria fusão entre arte e vida, tendo o habito popular como a própria capacidade de expressão e adaptação das comunidades a partir da sabedoria passada de geração em geração. Tivemos a oportunidade de presenciar grupos culturais se acabando diante da pressão urbana e informacional. De outra forma pudemos também participar de uma estimulação visivel , de iniciativas que receberem um alento ao verem uma caravana de artistas pesquisadores chegando a sua comunidade , vindos de outras comunidades , interessados no fazer e na sabedoria popular. Não no intuito de se inspirarem ou de produzirem as apresentações destes grupos diretamente, mas na perspectiva de alerta-los para o valor e a importãncia de práticas que em outras localidades já não possuem nem rastro sequer .

A partir das descobertas e dos afloramentos permitidos pro estas atividades de vivência com mestres e artistas, percebemos que as comunidades não tem ainda uma demanda institucional que permita receberem recursos e beneficios diretos de ações de politica publica de cultura, e que necessitam consolidar se institucionalmente como representações comunitarias e ou por assuntos de interesse comum na busca do reconhecimento e da valorização da sabedoria popular local . Dai a conclusão de que só mesmo uma metodologia de integração , a partir de ações nomades e itinerantes poderiam agregar estas comunidades , num processo de interligação, onde a perspectiva não é necessariamente espetacularizar as expressões e manifestações populares mas fazer os protagonistas verem que outras comunidades lutam da mesma forma por seu direito de acesso a fruição e ao conhecimento.

Fusão cultura da periferia e cultura integrada a natureza

A chave portanto de integração entre comunidades detentoras de saberes tradicionais , dentro de uma noção mais proxima da realidade precaria de subsistencia destas localidades foi integrar experiencias de mestres e artistas urbanos e rurais, Propiciar um encontro onde cada qual infere sobre sua perspectiva de manutenção do saber popular legado. Um processo de condução autonomo . Menos comprometido com a exposição destes que com a permanencia do saber popular reverenciado. Registro de repertorios, identificação de mitos locais, valorização da historia oral, fusão das imagens do saber popular em novas midias, desconstrução de barreiras que distanciam o contemporaneo do tradicional , são elementos observados nas ações cavuco-tuxauas ilustradas neste relatorio.

Tuxaua e cavuco

Quando tomamos conhecimento da apropriação do termo tuxaua ao campo da politica publica de cultura no que concerne a ações de interação e integração da cultura e arte , notamos a pertinencia do mesmo a pedagogia cavuca em construção. Processos complexos de valorização e de troca que para projetos artisticos as vezes estao fora do formato padronizado. formas diversas de ensino/aprendizagem/ação que por muito tempo não obtiveram reconhecimento de sua importancia. Ao mesmo tempo que acessamos conhecimentos e aprendemos oferecemos acesso e ferramentas de qualificação e gestão autonoma, suporte tecnológico e comunicacional, sem descaracterizar inconseuquentemente as opinioes e posições oferecidas pelas comunidades. Se de um lado são produtores, trabalhadores braçais por outro guardam atraves da tradição oral uma poetica e um juizo estético proprio que precisa ser valoriza. Transpoem aspectos de uma vida cotidiana material a relações cosmogonicas com a natureza e vice versa. Já não sentem necessidade em compartimentar o conhecimento, na medida que a cultura esta integrada por uma organicidade ao espaço e a economia simbolica presente na troca e no compartilhamento .